As percepções dos colaboradores sobre a organização em que trabalham e, consequentemente, seus comportamentos estão relacionados no tripé do comprometimento, que é composto por três fatores: comprometimento afetivo, cidadania organizacional e satisfação no trabalho.
De acordo com a professora Denise de Moura, dos cursos Comportamento Organizacional e Liderança e Líder Coach da Plataforma Solution, o tripé do comprometimento foi estudado pelo professor e pesquisador Alvaro Tamayo. A partir desse estudo, alguns questionamentos serviram como ponto de partida para a identificação e elaboração desses conceitos.
“De que forma os valores da empresa impactam no comportamento do colaborador a ponto de ele desejar se manter na empresa realizando objetivos organizacionais (comprometimento afetivo); cooperando com os colegas, trazendo soluções criativas e contribuindo para um bom clima organizacional (cidadania organizacional); e demonstrando satisfação com a natureza do trabalho, com o salário, com seus pares e superiores (satisfação no trabalho)?”, provoca Denise.
A importância dos valores na cultura organizacional
Quando os colaboradores acreditam nos valores da organização, naturalmente eles começam a agir em conformidade com o que foi apresentado. Assim, eles se comprometem efetivamente com o trabalho, defendendo os objetivos organizacionais, ajudando os colegas com as metas em grupo e aumentando o sentimento de pertencimento.
O tripé do comprometimento, portanto, está associado a uma cultura organizacional forte e com valores firmes que exercem impacto sobre atitudes e comportamentos. E isso facilita o comprometimento.
Denise ressalta que organizações com valores coerentes e consistentes, que alinham discurso e prática, conseguem desenvolver uma marca empregadora forte (employer branding), atraindo pessoas que de fato acreditam em seus valores.
Conheça também o tripé do trabalho e como ele pode ajudar em épocas de crise.
Contratação
Com isso, essas características do tripé do comprometimento influenciam nos custos de contratação. “As pessoas que se candidatam a trabalhar na empresa têm interesse em fazer parte daquela organização de cultura forte. Por isso, a rotatividade de colaboradores (turnover) diminui e as afiliações à empresa aumentam”, explica.
Para exemplificar, a professora cita o ex-CEO da empresa Elektro, Márcio Fernandes. Ele mencionava que, em sua empresa, eles não trabalhavam a retenção de pessoas, mas criavam encantamento para que elas escolhessem a sua empresa. “Isso significa que as ações, crenças e valores geravam desejo nos candidatos, clientes e todos os envolvidos na cadeia produtiva de fazer parte dela”, destaca.
Transformações
Entre os pontos importantes que fundamentam o tripé do comprometimento é necessário estar atento às mudanças que as empresas estão sujeitas e como elas podem influenciar os negócios. “Um exemplo dessas mudanças é essa pandemia de Covid-19, que nos mostrou que algumas modificações emergenciais necessárias, como o home office, podem se tornar uma nova modalidade de trabalho, mesmo após esse período”, comenta Denise.
Muitas empresas também têm passado por transformações em processos, produtos e indicadores de performance que podem gerar mudanças de valores e comportamentos mais permanentes, assim como novas crenças podem surgir em médio e longo prazo.
Denise afirma que manter o tripé do comprometimento ativo entre os colaboradores diante de tantas transformações exige que as empresas desenvolvam novas habilidades e capacidades para formar um ciclo contínuo de aprendizado organizacional.
Pensamento sistêmico
Uma das alternativas é desenvolver um pensamento sistêmico nos colaboradores, incentivando que eles percebam as mudanças em um contexto geral e saiam de um comportamento reativo para um comportamento ativo, de participação na criação de um futuro ainda incerto.
“Trazer as pessoas para a linha de frente das tomadas de decisão ajuda a fundamentar o tripé do comprometimento entre os colaboradores”, diz Denise.
Faz parte do pensamento sistêmico o aprendizado contínuo, em que as pessoas expandem suas capacidades de produzir novos resultados e contribuir para o futuro. Para isso, é importante também desenvolver novas habilidades técnicas e comportamentais.
“Esse processo contribui com a autoeficácia ou a crença que uma pessoa tem na sua capacidade de realizar uma atividade com sucesso. Quando o colaborador acredita na sua competência para realizar o seu trabalho com eficiência e, com isso, faz a diferença, ele se torna mais engajado”, destaca.
Modelo mental
Segundo Denise, a crise que estamos vivendo atualmente nos forçará a mudar nosso modelo mental com relação a inúmeros processos. “Se acreditarmos que não conseguiremos trabalhar de uma forma diferente, nunca iremos conseguir. Estamos vendo isso na prática. Alguns restaurantes, por exemplo, faliram no início da crise e outros estão reinventando o seu processo de delivery e conseguindo sobreviver.”
Claro que inúmeros fatores podem influenciar no sucesso ou insucesso de uma empresa, como as condições financeiras, principalmente. Mas um modelo mental composto de pensamentos negativos e reativos não ajuda. E aí o tripé do comprometimento também mostra sua importância.
“As empresas precisarão ajudar os colaboradores a desenvolverem duas competências importantes: o pensamento crítico e a resolução de problemas complexos, estimulando-os a questionar continuamente o status quo e a pensar em novas formas de realizar um trabalho.”
Isso contribui com a criatividade e facilita a construção de um modelo mental que percebe a mudança como um fator de crescimento e melhoria de processos. Você pode ler mais sobre esse assunto neste link.
Você consegue identificar o tripé do comprometimento nas relações dentro da sua empresa? Comente!