Especialmente no ambiente profissional, desabafar e reclamar são ações vistas de maneiras bem diferentes. E para ajudar a diferenciar os dois termos, a professora Denise de Moura, dos cursos Liderança e Líder Coach e Comportamento Organizacional, da Plataforma Solution, conversou com a gente sobre o assunto.
Ela começa apresentando uma expressão em inglês para o ato de desabafar: “get something off your chest”. Na tradução, significa tirar algo do peito e colocar para fora. “Quando desabafamos, fazemos exatamente isso: tiramos algo de dentro de nós, que está nos incomodando”, diz.
Escuta ativa
Ainda sobre desabafos, para ele ser realmente efetivo, é preciso que haja escuta ativa de quem está recebendo a mensagem. Segundo Denise, isso significa escutar sem pré-julgamento de valores e com certa contribuição, como palavras de apoio, sugestões, dicas e até exemplos.
E mais complexo do que isso, muitas vezes o desabafo por despertar emoções em quem escuta, como o sentimento de impotência e até a somatização da dor do outro. Assim, algumas pessoas podem não se sentir confortáveis em “receber” o desabafo.
Incômodos mais simples, que só precisam ser colocados para fora, dependem menos dessa escuta ativa e podem ser liberados por meio de uma conversa ou outras atividades, como a escrita, alguma atividade artística ou física, meditação entre outros.
Não vale reclamar
Até aqui, provavelmente, você já entendeu que desabafar e reclamar têm diferenças, mas que tal acompanhar o que Denise tem a dizer sobre as reclamações? “Quando as pessoas reclamam, geralmente, elas tiram a sua responsabilidade e capacidade de resolver a situação. Além de não ser saudável, isso é contraproducente, já que costuma aumentar o problema e colocar a pessoa como vítima, por vezes culpando outras pessoas e distorcendo a realidade”, destaca.
E um grande problema da reclamação, explica a professora, é que esse comportamento pode virar um hábito e as pessoas se acostumam a reclamar até das coisas boas que surgem. “Fora isso, ninguém quer trabalhar ou ficar perto de quem só reclama.”
Desabafe de forma inteligente
A distância entre desabafar e reclamar aumenta quando entendemos que uma conversa produtiva precisa se atentar a alguns detalhes. Denise dá algumas dicas:
- Escolha alguém de confiança para desabafar: além de ajudar a compreender o que está acontecendo, essa pessoa também não passará adiante o seu desabafo.
- Desabafo não é fofoca: se você fala mal de alguém para outras pessoas, não está desabafando, mas fofocando. Havendo atritos com colegas, principalmente no trabalho, converse diretamente com o outro profissional,
- Pode pedir conselhos: pessoas de confiança também servem para trazer luz à questão. Então, se estiver desconfortável com uma terceira pessoa, pergunte a seu amigo ou colega se ele também percebe determinado comportamento e como lidaria, em vez de dizer quanto aquele comportamento é inadequado.
As empresas podem ajudar
Muito além das ginásticas laborais, as organizações podem oportunizar momentos de relaxamento e integração entre os profissionais, a fim de promover o desabafo sobre processos e situações vividas.
“Aqui não podemos confundir, novamente, desabafar e reclamar. Esses encontros são momentos em que os profissionais expõem desafios e compartilham experiências sobre como gerenciá-los de forma efetiva”, comenta Denise.
E os surtos durante a pandemia?
Não é novidade para ninguém que a pandemia de Covid-19 abalou o emocional de muitas pessoas. E nossa imagem pessoal está diretamente ligada a nossos comportamentos.
Assim, o ideal para as lideranças é priorizar diálogos constantes com a equipe, com olhar mais humano aos sentimentos, anseios e medos, escutando o que as pessoas têm a dizer e propondo ações assertivas para resolver as situações que surgiram com a crise.
“Por outro lado, os profissionais precisam estar atentos a seus comportamentos, conversando com um amigo, trocando ideias e sugestões e procurando ajuda de um especialista caso seja necessário”, aconselha Denise.
Cuidando da imagem pessoal
Para mantermos uma boa imagem pessoal, precisamos estar atentos à forma como lidamos com nossas frustrações, o quão abertos estamos para escutar um feedback construtivo e como conseguimos resolver nossos problemas de forma efetiva e educada.
Por isso, a professora listou alguns pontos de atenção:
- Comportamento íntegro: discurso e prática caminham juntos e diálogo assertivo para evitar ruídos e fofocas;
- Trabalho e entrega de excelência: se não conseguir oferecer o seu melhor, peça ajuda. As entregas precisam de consistência e excelência. Já os líderes precisam de empatia para compreender se as equipes estão conseguindo dar o retorno desejado e ajudá-las no que elas precisarem;
- Comunicação clara: verificar se nos comunicamos de forma adequada com a outra pessoa. Podemos ser um facilitador ou um dificultador no processo comunicativo;
- Ser referência: que tal deixar um legado? Nossos comportamentos, atitudes e trabalho são referências para as outras pessoas? Estão pautados em valores éticos?
Desabafar e reclamar podem trazer consequências distintas e cabe a cada um decidir o que é melhor para si. Mas estamos aqui para te ajudar! Conseguimos? Comente!